Muitas pessoas adultas que hoje procuram a catequese, em busca dos sacramentos, têm dificuldades de apreender os ensinamentos a partir dos Evangelhos. Isso porque, estão acostumadas a ouvir de outras pessoas o que dizem sobre Jesus: “é nosso Deus, nosso Pai, alguém que faz milagres, divino, aquele que pode tudo”. Daí a dificuldade de olhar para Jesus humano-divino e divino-humano. Jesus que é o Filho de Deus, enviado ao mundo para nos revelar quem é Deus, o nosso Pai, e qual é a sua vontade, para que possamos ser mantenedores e participantes do seu Reino aqui na terra.
Jesus de Nazaré, conhecido como o Galileu, porque viveu na Galileia, uma região de Israel, ao ser enviado pelo Pai e viver aqui na terra, no seu tempo, ele viveu com toda a sua humanidade. Se fizermos uma leitura atenta da carta aos Filipenses, um ensinamento ofertado pelo Apóstolo Paulo que se preocupava em ajudar as pessoas a compreenderem Jesus ressuscitado como Filho de Deus, mas também, na terra viveu como humano, pode nos ajudar muito. Em Filipenses, capitulo 2, versículos de 5 a 13, Paulo nos convida a ter o mesmo sentimento de Cristo Jesus. Fala que ele tinha sua condição divina, mas não considerou o ser igual a Deus. Isto é, ele que se encontrava na forma de Deus, sendo Deus, tinha por direito todas as prerrogativas divinas, mas não considerou o estado de igualdade com Deus.
É importante ressaltar que esta igualdade não se refere à sua natureza divina. Desta ele não poderia despojar-se, pois foi reconhecido na sua ressurreição, como Deus, mas de duas naturezas distintas: Divino e humano. Mas despojou-se da sua igualdade com Deus na sua forma de ser: na igualdade de tratamento, de dignidade manifesta e reconhecida, que Jesus poderia ter reivindicado, mesmo na sua existência humana, e não o fez, mas esvaziou-se a si mesmo e assumiu a condição de servo, tomando a semelhança humana e assim, humilhou-se, e foi obediente até a morte e morte de cruz, na sua condição de humano.
Nossas histórias escritas sobre Jesus de Nazaré, ao se referirem a Ele como um ser humano comum, nos confundem. Mas, esse é o modo de falar sobre Jesus, próprio da maioria dos historiadores, jornalistas, repórteres, estudiosos da religião, romancistas, religiosos gnósticos. Vêm Jesus como o fundador de uma nova religião, um profeta de Israel, um místico, um contestador social, um líder político, um homem bom e simples, um amigo do povo, um homem santo, um homem possuído por Deus.
Muitas expressões religiosas atuais, como o espiritismo, a maçonaria, os movimentos gnósticos e esotéricos, a Nova Era, entre outros, embora apreciem os ensinamentos de Jesus de Nazaré como mestre espiritual, não reconhecem sua divindade. Do mesmo modo, muitos escritos científicos, nas áreas da história, da psicologia, da sociologia, das ciências da religião, entre outras, por causa dos pressupostos do método científico, não se interessam pela divindade de Jesus. Essas produções literárias, científicas, políticas, religiosas, artísticas ou jornalísticas, despojam a pessoa de Jesus de toda a interpretação que sobre ele foi dada pela Igreja no decorrer dos dois milênios do cristianismo.
Muitos não falam, nem escrevem como cristãos, como pessoas de fé. Por isso, não pressupõem a divindade de Jesus de Nazaré. Às vezes, até a negam. As histórias escritas, muitas vezes não trazem as verdades da fé cristã.
Por outro lado, muitas pessoas também acolhem Jesus como Deus, o todo poderoso que resolve tudo e esquecem de sua humanidade. Daí o grande problema do cristão que não consegue seguir a Jesus. Esperam que tudo possa ser resolvido por ele, porque não conseguiriam fazer as coisas que só seriam possíveis a Deus.
Quando buscamos um entendimento da nossa fé nas Palavras do Evangelho e nos ensinamentos da Igreja, que representam o caminhar da tradição da fé cristã, muitas coisas podem ser esclarecidas.
Uma leitura bem feita se faz importante para que nesses escritos possamos resgatar os valores da realidade concreta, histórica, social, política e humana da pessoa de Jesus Cristo. A fé cristã também afirma a humanidade de Jesus. Não podemos crer somente num Jesus Cristo das alturas, mas também de Jesus que caminhou com seu povo e, através de sua convivência aqui na terra, possibilitou a todos conhecer quem é o Deus dos cristãos. Um Deus apresentado por Jesus: um Deus amoroso, misericordioso que cuida de todos e tem compaixão. Jesus é o caminho que nos leva ao Pai, aquele a quem Jesus chama de “abba” Paizinho.
Jesus de Nazaré é a presença e a ação de Deus em nossa história. Cremos num Deus que se fez homem, que viveu no meio de nós, morreu, ressuscitou, voltou para o Pai e enviou o seu Espírito para iluminar a nossa caminhada aqui e sermos os continuadores de sua obra. Fazer sempre o bem a todos. Sermos seguidores de sua Pessoa e anuncia-lo a todas às nações. À luz do seu Espírito, cremos na sua ressurreição. Tão humano foi que só podia ser Deus. Aquele que foi exaltado é aquele que desceu (Fl 2, 6-11), que veio a nós, que se encarnou em nosso meio (Jo 1,14), que desejou ser Deus-conosco (Mt 1, 22-23). Nisso nós cremos: este homem é Deus, este Deus fez-se homem.
Neuza Silveira de Souza. Coordenadora do Secretariado Arquidiocesano Bíblico-Catequético de Belo Horizonte.
Contribuição do catequista Rodrigo Utsch